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Texto livre: aviso

18 de janeiro de 2024

A era dos super-ricos? 

Philip Yang

O século XXI parece ser o século dos super-ricos. No século XIX, a classe operária foi o objeto central da sociologia, desde o Manifesto Comunista (até talvez ~1980). E no século XX, sobretudo depois do segundo pós-guerra, a classe média rouba a cena das ciências sociais, como depositária da esperança liberal de que o progresso econômico, o consumo de massa e a educação levariam a uma sociedade mais equitativa e estável. 

 

No entanto, nem o operariado e tampouco as classes médias lograram deter algum poder regulador da governança das sociedades. Parece mesmo que o século XXI se definirá como o século dos super-ricos, uma pequeníssima oligarquia (formada por controladores das BigTech, BigEnergy, BigPharma, BigArms, BigFinance e BigAgro) que efetivamente logrou capturar os meios políticos e de produção e influenciar decisivamente os destinos das sociedades. 

 

O processo é conhecido de todos. Com o aumento da desigualdade, os estamentos intermediários de renda média no Ocidente vêm sendo comprimidos para baixo na pirâmide social. Paralelamente, o deslocamento de boa parte das atividades industriais para países autoritários do Oriente, o enfraquecimento dos sindicatos, e o abandono, pelos partidos de esquerda, da pauta de interesse dos trabalhadores esvaziaram qualquer possibilidade de preeminência ou controle da classe trabalhadora.  

Desde Aristóteles, as classes médias, ao atuarem como moderadoras entre os extremos de riqueza e pobreza, e por serem efetivamente a força constitutiva do Estado e a da vida cívica, são tidas pela ciência política como essenciais para a estabilidade e a justiça das sociedades. Na era dos super-ricos, o que está em jogo é justamente o esvaziamento material e político de toda possibilidade de mediação e ponderação não-autoritária que somente as camadas intermediárias são capazes de prover. 

 

Nada parece ser capaz de deter esse movimento tectônico em curso. E se você não for integrante de um dos BigSix acima, resta talvez apenas agir na pequena escala, no limite do seu alcance e influência, como forma última de resistência cívica a forças sistêmicas que avançam de forma inexorável.  São esses pensamentos que me ocorrem numa flanada em Montréal a -10oC, e que motivaram o pequeno texto que a Cidades 21 gentilmente publica aqui, sobre a importância de usos mistos e rendas mistas no desenvolvimento de áreas urbanas. 

 

Nas cidades, há algo que podemos e devemos fazer para buscar contrarrestar o aprofundamento das divisões que se agravam. 

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